Política e Prazeres

Já que o poder é afrodisíaco.

sábado, julho 28, 2007

Será que Jobim se salvará?

Desde o início do governo Lula, existe uma maldição aos que dele se aproximam. O governo já queimou aliados de primeira hora como José Dirceu, Antônio Palocci e Genoíno. Até a sua parceria com Duda Mendonça, que se imaginava duradoura, foi desfeita. Recentemente, foi o forte aliado Renan Calheiros a ser seriamente atingido por denúncias de corrupção. Não renunciou à Presidência do Senado, mas não passa hoje de um morto-vivo no jogo político. É um cadáver insepulto, em se tratando de altos vôos na política. Ainda seguem em boas posições, a ministra Dilma Rousseff, que toca o governo com toda autoridade e jeitão de primeira-ministra, e o senador José Sarney, que sabe se resguardar e é uma espécie de conselheiro de Lula nas horas difíceis. Agora, Nelson Jobim entrou nesse fogo. Assumiu um risco, mas sabe claramente aonde quer chegar.

O jogo é pesado

O novo ministro da defesa Nelson Jobim não se conformará com o papel de coadjuvante. Entrou no governo Lula com a intenção de realizar um bom trabalho e impulsionar a sua candidatura à Presidência da República. Daqui a pouco, irão surgir os primeiros "fogos amigos" de dentro do próprio governo. Dilma Rousseff está acostumada a dar ordens aos outros ministros. É hoje a gerente do governo. É previsível que os estilos fortes de Jobim e Dilma se choquem em um futuro próximo.

Vamos aguardar.

Oscar, o arquétipo do brasileiro

O ex-jogador de basquete Oscar Schmidt guarda em si todas as virtudes e vícios do povo brasileiro. É solidário. Vibra e se emociona com o sucesso dos outros atletas brasileiros. Parece até que está competindo junto com eles. No entanto, falta-lhe algumas posturas básicas, as quais já deveria ter aprendido nos muitos anos competindo. Torce pelo erro do adversário, vaia atletas nos esportes individuais, o que não é permitido, e passa a lição de que o importante é ganhar, independentemente dos artifícios. Oscar é o brasileiro nato. Quer ver os que estão à sua volta bem, no entanto não possui os limites na hora de se confrontar com o outro - o ser humano que não lhe guarda nenhuma identidade.

quarta-feira, julho 25, 2007

Agora é com Jobim

Já tinha gente comentando que a vaga de Pires seria de Jobim, só faltava o momento certo. Pois bem, não sabemos se o momento agora é o mais certo para Nelso Jobim assumir, mas podemos sentir que todos, inclusive os jornalistas mais críticos, estão apostando sua última ponta de esperança no ex-presidente so STF.
Jobim assumirá hoje às 16:00, no Palácio do Planalto. Tem uma missão muito difícil pela frente, e terá que usar sua habilidade política como nunca. Se sair bem dessa, pode-se até dizer que ele será um forte pré-candidato a presidente.
Quem sabe?

terça-feira, julho 24, 2007

Carta da mãe de uma das vítimas da tragédia do vôo 3706

"Aos governantes e à família brasileira,

Perdi o meu único filho.
Ninguém, a não ser outra mãe que tenha passado por semelhante tragédia, pode ter experimentado dor maior.
Mesmo sem ter sido dada qualquer publicidade à missa que ontem oferecemos à alma de meu filho, Luís Fernando Soares Zacchini, mais de cem pessoas compareceram. Em todos os olhos havia lágrimas. Lágrimas sinceras de dor, de saudade, de empatia. Meus olhos refletiam todos os prantos derramados por ele, por mim, por seu filhinho, por sua esposa, por todos parentes e amigos. Por todos os sacrificados na catástrofe do Aeroporto de Congonhas.
Há muito eu sabia que desastres aéreos iriam acontecer. Sabia que os vôos neste país não oferecem segurança no céu e na terra. Que no Brasil a voracidade de vender bilhetes aéreos superou o respeito à vida humana. A culpa é lançada sobre um número insuficiente de mal remunerados operadores aéreos ou sobre as condições das turbinas dos aviões. Um Governo alheio a vaias é responsável pelo desmonte de uma das mais respeitáveis e confiáveis empresas aéreas do mundo, a VARIG, em benefício da TAM, desde então, a principal provedora de bilhetes pagos pelo Governo. Que a opinião pública é desviada para supostos erros de bodes expiatórios, permitindo aos ambíguos incompetentes que nos governam continuarem sua ação impune. Que nossos aeroportos não têm condições de atender à crescente demanda de vôos cujo preço é o mais caro do mundo. Quando os usuários aguardam uma explicação, à falta de respeito ao cidadão juntam-se o escárnio e a cruel vulgaridade de uma ministra recomendando aos viajantes prejudicados que relaxem e gozem. Assuntos de alcova não condizentes com a reta postura moral e respeito exigidos no exercício de cargos públicos. Assessores do presidente deste país eximem-se da responsabilidade e do compromisso com a segurança de nosso povo exibindo gestos pornográficos. Gestos mais apropriados a bordéis do que a gabinetes presidenciais. Ao invés de se arrependerem de uma conduta chula, incompatível com a dignidade de um povo doce e amável como o brasileiro, ainda alardeiam indignação, único sentimento ao alcance dos indignos. Aqueles que deveriam comandar a responsabilidade pelo tráfego aéreo no Brasil nada fazem exceto conchavos. Aceitam as vantagens de um cargo sem sequer diferenciarem caixa preta de sucata. Tanto que oneraram e humilharam o país ao levar o material errado para ser examinado em Washington. Essas são as mesmas autoridades agraciadas com louvor e condecorações do Governo em nome do povo brasileiro, enquanto toda a nação, no auge de sofrimento, chorava a perda de seus filhos.
Tudo isto eu sabia. A mim, bastava-me minha dor, bastava meu pranto, bastava o sofrimento dos que me amam, dos que amaram meu filho. Nenhum choro ou lamento iria aumentar ou minorar tanta tristeza. Dores iguais ou maiores que a minha, de outras mães, dos pais, filhos e amigos dos mortos necessitam de consolo. A solidariedade e amor ao próximo obrigam-nos a esquecer a própria dor.
Não pensei, contudo, que teria de passar por mais um insulto: ouvir a falsidade de um presidente, sob a forma de ensaiadas e demagógicas palavras de conforto. Um texto certamente encomendado a um hábil redator, dirigido mais à opinião pública do que a nossos corações, ao nosso luto, às nossas vítimas. Palavras que soaram tão falsas quanto a forçada e patética tentativa que demonstrou ao simular uma lágrima. Não, francamente eu não merecia ter de me submeter a mais essa provação nem necessitava presenciar a estúpida cena: ver o chefe da nação sofismar um sofrimento que não compartilhava conosco.
Senhores governantes: há dias vejo o mundo através de lágrimas amargas mas verdadeiras. Confundem-se com as lágrimas sinceras e puras de todos os corações amigos. Há dias, da forma mais dolorosa possível, aprendi o que é o verdadeiro amor. O amor humano, o Amor Divino. O amor é inefável, o amor é um sentimento despojado de interesse, não recorre a histriônicas atitudes políticas.
Não jorra das bocas, flui do coração!
E que Deus nos abençoe!
Adi Maria Vasconcellos Soares
Porto Alegre, 21 de julho de 2007."

O acessório superou o principal

A manchete do Jornal de Hoje do último final de semana nos causou estranheza. Trouxe como título mais importante "Ministro Mares Guia representa o presidente no velório de Nélio". Como título secundário, em letras menores, "O adeus ao presidente nacional do PP". Vejam, não somos jornalistas, mas o fato principal foi a morte de Nélio. A representação presidencial está associada ao falecimento do deputado. Teria sido mais apropriado como manchete principal "O adeus a Nélio" - título curto e evocativo à saudade de familiares, amigos e admirados do bravo deputado. Sem adjetivações. Como subtítulo, para salientar a importância de Nélio no cenário político nacional, "Ministro Mares Guia representa Lula no velório do presidente nacional do PP".

Adeus Nélio.

segunda-feira, julho 23, 2007

Qual a função de Marco Aurélio Garcia?

Marco Aurélio Garcia é uma espécie de guru do governo Lula. Mete o bedelho em quase tudo, dá pitaco, constrange ministros e está sempre à frente das propostas autoritárias do governo, como a da censura prévia sobre a mídia. Admirador de Cháves e Fidel Castro, Garcia está 15 anos atrasado no que toca as deliberações do seu partido - que há muito tempo abandonou idéias revolucionárias e totalitárias como "ditadura do proletariado", "luta de classes", "democracia burguesa", entre outras. No triste acidente que vitimou quase 200 pessoas em São Paulo, Garcia apareceu comemorando uma reportagem que indicava que talvez não tivesse sido a pista de Congonhas o principal fator causador do acidente. Um acinte comemorar algo enquanto o país todo está de luto. Talvez, um velho ditado popular explique essas atitudes do Aspone: "cabeça vazia, morada do diabo". Lula deveria ocupar o seu auxiliar para que ele não fique pensando e falando bobagens.

Folhas: mortas e vivas

Cláudio Emerenciano - Professor da UFRN

Ah, como o mundo seria outro, se a humanidade entendesse as parábolas e as metáforas. Em seu sentido figurado ou real, explícito, claro e evidente. Muito antes do Cristo, não compreenderam as palavras de Sócrates e o condenaram a morrer bebendo cicuta (veneno). Jesus falava por parábolas e, assim, consumaram-se profecias: "tinham olhos e não viam, tinham ouvidos e não ouviam". Num dos mais belos, ternos e humanos filmes que já vi, "O Carteiro e o Poeta", Pablo Neruda pergunta ao carteiro como eram as redes de pescar do seu pai: "tristes", foi a resposta. Folhas mortas são as que caem, embaladas pelos ventos do outono. A canção de Joseph Kosma e Jacques Prévert (Les Feuilles Mortes) foi imortalizada por Edith Piaf. Mas seu conteúdo emerge de uma ou inúmeras metáforas, cujo sentido se aplica a tudo quanto passa na vida e não volta mais. Sequer sobrevive na lembrança ou na saudade. Meu saudoso tio-avô Gothardo Netto, em cada estrofe do seu poema "Folhas Mortas", captou e revelou uma pluralidade de significados da metáfora, que seduz por sua natureza nostálgica, de algo sem retorno mas sentimental. Eis uma delas: "Folhas mortas! Vos deixo às lufadas da sorte, Como um bando augural de pássaros perdidos...Sem a sombra aromal dos pomares queridos, Sem um raio de luz que as alente e conforte!"

É impossível dissociar-me da fé cristã. Ela me acompanha desde que tenho entendimento de mim mesmo. Sábado, dia 14 deste julho de 2007, participei da missa celebrada pelo padre Geraldo, velhinho, calmo, lúcido, humilde e digno. O Evangelho de São Lucas se assenta na parábola do "Bom Samaritano". Em síntese: um homem foi assaltado e cruelmente agredido fisicamente. Foi deixado na estrada para morrer. Passaram um sacerdote e um juiz, e não o socorreram. Mas o samaritano deu assistência ao ferido em todos os sentidos. Padre Geraldo, com simplicidade, objetividade e singeleza, perguntou se estamos, no Brasil, vivenciando uma sociedade solidária e cristã. Será que perdemos a noção de justiça, caridade e fraternidade?

No domingo, dia 15, o Padre Pio Hensgens batizou meu neto Rafael e mais duas crianças. Padre Pio me lembra muito São Paulo. Sua fé é viril, indômita, autêntica, profunda, vivencial e exemplar. Além de explicar o sentido do sacramento e dos deveres de pais e padrinhos na formação da espiritualidade e do caráter da criança, o celebrante suscitou a questão básica do nosso tempo: estamos exercitando o amor? Como formar cristãos? Sem a prática e a fé no amor, extensão do infinito amor de Deus pela humanidade e toda Criação? A solidariedade de uns com os outros se materializa na família (lar), na escola, na comunidade eclesial (paróquia), entre amigos ou até desconhecidos. Qual é a visão de vida predominante entre nós? Solidária ou individualista? Para onde vamos se nos submetemos aos valores egoístas e materiais?

O cristão é uma folha viva. Não morre. Sua vida se renova por sua fé, suas ações, sua maneira de relacionar-se com os outros. É uma contínua, progressiva e renovada vivência do amor. Reflete-se no âmago de tudo quanto faz a grandeza do homem. A melhor síntese é atribuída a Maria de Nazaré, Nossa Senhora, em um dos Evangelhos Apócrifos, aceitos pela Igreja Coopta (fundada por São João): "Deve ser aquele que procura restaurar todos os desequilíbrios, que leva o consolo a todos os que padecem, e, ainda mais, aquele que entende os ignorantes. Sempre com amor".

Fonte: http://tribunadonorte.com.br/coluna.php?id=2020&art=47676

domingo, julho 22, 2007

Com 10 meses e quase 200 mortes de atraso

Há 10 meses, o país ficou consternado com um acidente entre um avião da Gol e um jato Legacy. Morreram 154 pessoas. O acidente provocou uma crise aérea envolvendo os controladores de vôo, acusados de terem sido negligentes no episódio. Desde então, o governo Lula tem se revelado incapaz de resolver a crise. E o que é pior, além de incapaz, revelou até um certo desdém com um assunto sério que expos uma infra-estrutura precária, a qual compromete a segurança dos passageiros. Irritado com a crise, o presidente Lula chegou a anunciar que queria dia e hora para que terminasse. No entanto, os seus subordinados não deram bola. Waldir Pires atuou no caso como um autista, parecia que não tinha nada a ver com o caso. Chegou, inclusive, a reclamar do seu salário. A Anac, entregue a militantes petistas, não desempenhou o seu papel de regulação junto às companhias aéreas. Outros ministros fizeram gracinha. A ministra Marta nos sugeriu "relaxar e gozar". O ministro Mantega, do alto de sua empáfia, afirmou que tudo não passava de exteriorização da prosperidade. Ou seja, transformaram-se, de repente, em palhaços de um circo, como se aquelas 154 mortes não tivessem representado nada. O aeroporto de Congonhas, sabidamente inadequado, continuou sendo reformado, ou seja, os nossos recursos, frutos da contribuição de cada brasileiro, estavam sendo gastos em um equipamento impróprio para aquele volume de tráfego aéreo. Parece até que vivemos em uma tamanha bonança que podemos nos dar o luxo de “jogar dinheiro fora”. Deve ser reflexo do pensamento “manteguista”. O governo, na verdade, acreditava na sorte. Já havia ocorrido um acidente, seria muito difícil acontecer outro. Não no período de um único governo. Formou-se então uma espécie de “roleta russa” a cada pouso de avião de grande porte nas pistas de Congonhas. Brincou-se com o quê não se devia. Com a vida das pessoas. Quase 200 morreram. Depois disso, o governo finalmente anuncia uma série de medidas para reorganizar o nosso tráfego aéreo. No entanto, fica no ar uma pergunta dolorosa, sentida, como um grito da sociedade: por que não fizeram antes? Cada brasileiro está se enxergando nos que morreram e nos seus familiares e se questiona se é esta a postura que elegeu quando reconduziu Lula à presidência.