Política e Prazeres

Já que o poder é afrodisíaco.

domingo, novembro 18, 2007

Hoje em WM

O sertão de Alex
O sertão mais longe que Alex Nascimento pisou fica coisa de 10 léguas de sua casa de Natal: Caiada de Baixo. Mas essa aventura já faz bastante tempo, coisa da primeira juventude. Ninguém mais praciano, mais urbano do que esse cara. Basta um xopingue desses bem modernos para que o poeta determine os marcos que definem seu espaço físico, incluindo meia dúzia de bares, de preferência os que não fecham na madrugada e que não se localizem além da última curva de Ponta Negra. Caiada de Baixo, terra de seus ancestrais, nem é esse sertão todo, desses que o poeta conheceu lendo as páginas do seu colega engenheiro. Não, não é. Caiada, por onde nasce e cria corpo o rio Jundiaí e que hoje tem o pomposo nome de Senador Eloy de Souza - que era um doutor em sertões e metido também a derrubar boi no mato, dentro mesmo da caatinga braba -, fica ali na faixa de transição entre o Agreste e o Sertão, nas vizinhanças do Trairi, mais adiante a Serra do Doutor de onde se desce pelas ladeiras empedradas no rumo do Seridó: Sertões.
Morador de cidade grande e viajor graduado por outros continentes (atravessou de bicicleta não sei quantas caiadas da Holanda, de um lado tulipas do outro, girassóis,) o poeta de “Almas de Rapina” e do “Amor e outras mentiras”, ama o sertão nordestino à sua maneira, admirador de seus violeiros e repentistas, de suas bandas de música e muito mais de sua culinária. No altar-mor do seu paladar estão a carne de sol, o feijão verde, a paçoca, macaxeira, batata doce, queijo de coalho. Abre exceção para uma bacalhoada. Mas isso é uma outra história. Do sertão só não gosta mesmo é do sol que queima aquele chão. Nem o de lá, nem o sol das praias de cá. É ave noturna. Tem um outro bem querer sertanejo de Alex: o doutor Paulo Balá, o médico e o escritor. Leitor de suas cartas, publicadas aqui e acolá neste canto de jornal e reunidas em dois livros, cujo estilo e linguagem são muito do seu agrado estético, mais ainda quando Paulo pesca em boas águas pérolas do falar arcaico do sertanejo que o remete ao quinhentismo de além mar porta aberta por onde Alex descobriu a invenção camoniana.
Noite dessas, no alpendrado do Chez Louís, ele me mostrou um poema que acabara de cometer para homenagear o amigo Paulo Balá. Ainda não colocou título, mas percebe-se que o poeta foi seguindo a métrica que o aproxima da poesia sertaneja nordestina, saudoso das feiras que ele nunca foi. Assim:
Ô miséria
Ô sofrimento
Eu tô que já não me agüento
Vontade de debandar
O Nordeste tá tão seco
Que até nos óio da gente
O sono é mais diferente
Falta água pra chorar
Não tem mais onde doer
E pro meu xodó saber
Confesso pra onde vou:
Correr atrás do inverno
Que aquele cão seu amigo
Disse o rasto que tomar:
Quintos porões do inferno
Sem uma gota molharS
e der vontadeMe cate
Mate essa crua saudade
Antes que essa crueldade
Me mateSe der loucura
Me ache
Traga as mentiras de praxe
Se chover vou te encharcar