A ponte, o rio e o mar

Os principais assuntos tratados nas mesas de bares e restaurantes da capital potiguar se relacionam a um dos estuários mais bonitos do mundo. A chegada do Rio Potengi no Oceano Atlântico é linda. Encanta. Ficamos assim, parados, assistindo a um encontro que existe desde o primeiro dia da criação do mundo.
Os peixes mortos, com culpa no cartório do governo do estado, infectaram o rio. Deixaram tudo podre. A consequência natural é a poluição do mar. Portanto, os pescadores nem podem pescar no rio e nem ali no comecinho do oceano. Terão que se aventurar rumo ao horizonte desconhecido para tentar trazer comida. Não só pra nós que compramos o peixe, mas para todos aqueles que dependem do faturamento do pescado. Agora não tem mais nada.
Em cima desse encontro, assistindo a tudo, está a "Ponte de Todos". E que ponte. Uma das ponte mais faladas no mundo inteiro. Não por sua beleza, jamais, ou por sua real funcionalidade, essa menos ainda. Mas porque, mais uma vez, alguém "ganhou" mais do que deveria.
Deveríamos analisar porque a ponte é de "todos" e quem são esses "todos". Por exemplo, a STTU já decidiu quantas linhas de ônibus coletivo passarão sobre a ponte? Parece que vai ser uma ou duas linhas, coisa que não vai ajudar a desafogar a outra ponte, aquela que começa na Urbana. Outra dúvida que temos é sobre quem usará a nova ponte. Infelizmente somos forçados a acreditar que apenas os veranistas, povo com dinheiro, do litoral norte usarão aquela ponte. Quem mais usaria meu povo?! Ninguém vai sair do centro da cidade, ou do alecrim, pra descer pra ribeira, chegar nas rocas, depois praia do forte, atravessar a ponte, chegar na redinha, andar mais 10km atravessando a zona norte para chegar em casa. Ninguém em sã consciência fará uma coisa dessas.
Então já que o acesso para veranear ficará mais fácil, a procura pelo litoral norte será maior. Certo? Com isso os terrenos ali aumentarão significativamente de valor, e mais uma vez, os veranistas do litoral norte serão privilegiados. Como os preços dos imóveis subirão demais, apenas nossos "amigos" gringos poderão comprá-los. E aí sim começa o mais errado de tudo. Esses nosso amigos estrangeiros, que nos trouxeram drogas, prostituição e corrupção na Câmara Municipal de Natal terão lindas casas, bonitos hotéis e agradáveis resorts para desfrutarem, e serão os verdadeiros beneficiados com a "Ponte de todos os ricos" ou a "Ponte de todos os gringos".
Preferimos, muito mais, nossos conterrâneos com suas casas tradicionais e suas festas anuais nos veraneios tão animados no litoral norte.