Política e Prazeres

Já que o poder é afrodisíaco.

terça-feira, outubro 02, 2007

Deu no blog do Juca

'Pedaço de mim'
Hoje faz 30 anos que Pelé se despediu do futebol e disse "love, love, love!".

Por ROBERTO VIEIRA

No dia 30 de setembro de 1977, uma carta apareceu nos jornais de todo o Brasil.

Apócrifa.

Nova York, 30 de setembro de 1977,
Meu amor,
O que será da minha vida sem você?
A saudade já me invade. Covarde. Completa.
Não sei responder.
Tantos chegaram perto de conquistar meu coração. Leviana. Um dia nos pés do Mestre Ziza. No outro do Mestre Tim.
Em algumas noites eu pertenci ao Diamante Negro. Andamos de bicicleta. Apaixonados.
Mas nada que durasse muito tempo.
Alguns gringos me tratavam com carinho. Puskas galanteador. Di Stefano dono do mundo. Mathews gentleman.
Tudo muito formal. Ninguém me chamava de mulher, como diria Chico Buarque. Que aliás me namora. Amador.
A todos neguei meu amor.
Porque amor é uma coisa complicada. Não depende da vontade da gente. Se sente e só.
Então você me chegou. Menino. Sorrindo. Nunca perguntou meu nome. Sabia.
Nunca me chamou pra dançar. Já saimos dançando quando nos vimos.
Viajamos juntos para a Suécia. Você era de menor, mas ficamos no mesmo quarto. Ainda lembro quando aquele sueco veio com as travas da chuteira me agredir. Você me levantou no ar e sem me deixar cair me fez deslizar até as redes.
E o mundo conheceu você.
E nós fomos conquistar o mundo juntos. On the road.
Lembro do olhar dos portugueses quando você driblou metade do Benfica e só parou quando chegou no Castelo de São Jorge.
Ou daquela vez quando me usou para se vingar do Botafogo de Ribeirão Preto.
Você me escreveu os mais belos versos de amor.
Mil vezes.
Lançou-me pelos ares rumo ao gol. E Viktor saiu correndo, ridículo. Sublime.
Mas você por vezes me enganava.
Um dia eu imaginei que você me mandaria para as redes de Mazurkiewicz.
Ele foi para um lado e eu para o outro e nós nos encontramos no infinito.
Mas seu maior prazer era me exibir nua para os corintianos.
Eles chamavam por mim, desesperados. Eu desfilava no quase. Mas voltava aos seus pés. Sempre.
Quando Vicente e Morais te torturaram eu me neguei a eles que perderam a Copa, perderam as eliminatórias, perderam o rumo.
Lembra quando nós faziamos um ménage a trois com o Coutinho?
Muitas vezes eu não sabia quem era quem.
Então os anos passaram e você me disse adeus em 1971.
Eu te gritei: Fica!
E novamente você me disse adeus em 1974.
Eu te disse: Volta!
Hoje um novo adeus percorre os lábios teus. Um adeus pra sempre.
Um adeus sem volta.
E eu me recolho casta. Para viver dos sonhos.
Sempre apaixonada.
Sempre tua,
A BOLA

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