Política e Prazeres

Já que o poder é afrodisíaco.

quarta-feira, março 14, 2007

Especial

A leitura fácil e envolvente de Woden Madruga pode ser percebida na coluna dele de hoje. Com seu humor sarcástico e bem apurado, ele sentou suavemente a marreta na "alta" roda Potiguar, com suas frivolidades e coisas e tal.
Leia abaixo, na íntegra.

A vida por um Hilux
As folhas locais em suas edições de domingo que passou estão enriquecidas de entrevistas felomenais. Na Tribuna do Norte, por exemplo, tem logo duas. Uma com o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador Oswaldo Cruz, e outra com o engenheiro Getúlio Apolinário Pereira, “treinador de executivos governamentais”. No Poti, o leitor se deleitou com a entrevista do todo poderoso condottiere da Assembléia Legislativa, o deputado Robinson Faria, que acaba de ser reeleito para um novo mandato que só começará daqui a dois anos enquanto ainda o dito cujo deputado “peleja” no segundo mês do atual. Isso sem falar nos anteriores obtidos através dos mesmos expedientes.
Li e reli as três entrevistas. E hoje, passadas 48 horas elas ainda me exigem profundas reflexões. Principalmente a do presidente do Tribunal de Justiça. A começar pelo titulo da matéria, tirado de uma frase do ilustre magistrado: “O juiz não é feito só de Hilux”. Não, não é. Concordo com o desembargador. Há outros ingredientes e componentes na formação de um juiz de direito. Mas como é que entra o Hilux na composição de um magistrado? Bom, primeiro precisamos saber que é um HiluxQuando fiz a primeira leitura da entrevista do doutor Oswaldo Cruz confesso que a ficha não caiu logo. Demorou, sim. Depois dos 70 anos o sujeito fica devagar mesmo. Reli o texto, então, e aí comecei a entender o raciocínio do presidente do TJ. O Hilux é uma marca de carro, carro de luxo. Quem tem o privilégio e a felicidade de possuir um Hilux goza de todos os outros “status” que a boa vida oferece, freqüenta altas rodas (sem trocadilho), viaja sempre à Argentina, percorre o circuito dos vinhos no Chile, é muito solicitado e sempre citado nas colunas sociais, esse poderoso vade-mécum de frivolidades, mas que mede a vida das celebridades. O Hilus não é somente uma “grife”, é um atestado de poder, uma referência de prestígio, um sinal de reverência. O escritor Mario Vargas Llosa diz que “a frivolidade é rainha e senhora da civilização pós-moderna”. Se você sai na coluna social e tem um Hilux, atingiu o himalaia da glória. Chegou ao ponto G. Foi assim que eu entendi a feliz comparação sugerida pelo desembargador. Ele deseja que o juiz desça do pedestal e venha até ao meio-fio das comunidades onde passam as multidões silenciosas em seus fuscas. Ele quer que o juiz vá até à senzala; que o meritíssimo não fique apenas frequentando os salões da Casa Grande. Está textual na entrevista dada à competente jornalista Ana Ruth Dantas:- Com isso, ao invés do povo estar vindo atrás da Justiça, o juiz vai ao encontro do povo (...) Nesse propósito é para mostrar que o juiz não feito só de Hilux e sala entapetada, um homem comum e que interpreta os anseios da comunidade.Pelas declarações do presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, um experimentado magistrado que, certamente, comeu muita poeira pelos caminhos que atravessam o carrascal das primeiras entrâncias até chegar ao pódio da carreira como presidente da corte (houve um tempo que o juiz se deslocava no lombo do cavalo, mais tarde no misto de Juvino e depois nos ônibus e até de trem, percorrendo longínquas distâncias), pois bem, lendo as declarações do desembargador Oswaldo Cruz, entendi que os juizes do Rio Grande do Norte se locomovem em suas comarcas em possantes Hilux. Será mesmo? Quanto custa um Hilux? Fui bater nas portas dos especialistas. Passei um imeio para Fernando Siqueira, mas não tive respostas. Deve andar pela Austrália. Fui aos cadernos e revistas especializadas em autoveiculos, Quatro Rodas, por aí. E fiquei sabendo.Fiquei sabendo que o Hilux é fabricado pela Toyota. Há vários modelos de Hilux. O mais em conta custa em torno de 70 a 72 mil reais (preço de São Paulo). É o Hilux TD 16V (2.5). O mais caro é o modelo SW4 TDI 16V (3.V). Custa uma nota preta em torno de 160 mil reais. É o Hilux da mais alta entrância, mais ou menos o carro que o secretário Iberê Ferreira de Souza, segundo os jornais, está querendo adquirir para a sua secretaria de Recursos Hídricos. O preço de um açude!Aí me veio uma pergunta, assim de repente, enquanto exercitava minhas reflexões e olhava pelo meu retrovisor particular: Qual é o modelo de Hilux mais ao gosto da magistratura do Rio Grande do Norte? Engatei outra pergunta e exerci cálculos de cabeça: qual é o salário médio, líquido (descontado o Imposto de Renda, etc.) de um juiz de entrância inferior? De um desembargador, se meus cálculos não falham, é coisa de 15 mil reais. Com muita data vênia, se for safenado, pouco mais. Bom, deixemos para outro dia as entrevistas com o deputado Robinson Faria e com esse preceptor do Conselheiro Acácio, o doutor Getúlio Apolinário Pereira. Estão anotadas.

2 Comments:

  • At 14 março, 2007 12:00, Anonymous Anônimo said…

    Sensacional. Se Woden parasse de falar de chuvas e fizesse todos os dias um texto como esse ajudaria mais a mudar para melhor a feição do RN, estampando uma visão crítica de suas mazelas. Woden quando fala de política é um craque, e como tal deveria diariamente compartilhar o seu talento com os seus inúmeros leitores. Chuva fica para os burocratas do Instituto de Metereologia.

     
  • At 14 março, 2007 22:30, Anonymous Anônimo said…

    Olá,
    o comentário de WM realmente está "felomenal". E que ele não deixe passar os "futuros comentários" sôbre o Deputado Robinson Faria e o Dr. Getúlio Apolinário Pereira. Ele, WM, vai deitar e rolar como só ele sabe. Ah, como é bom ler todos os dias a coluna de WM.
    Ana Luíza

     

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