Navalha na carne

A "Operação Navalha" da PF é o escândalo da vez. Trata-se de um esquema de propina envolvendo construtora e agentes públicos. Nada de novo. O que espanta é o modus operandi aberto, sem medo, revelando que a grande arma dos corruptos é a impunidade. Políticos de várias vertentes e de vários estados da federação estão envolvidos, demonstrando que a corrupção no nosso país é extremamente democrática.

Chama a atenção, no entanto, um certo epicentro do escândalo, se é que se pode identificá-lo em meio a algo tão difuso. Pessoas ligadas aos senadores Renan Calheiros e José Sarney estão envolvidas até a medula, pelo menos, segundo declarações de policiais federais. As declarações contra o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, homem de confiança de Sarney, são contudentes, porém não se encontrou o famoso "batom na cueca", uma prova cabal de que ele realmente tenha participado do esquema. Provou-se apenas que havia um propinoduto passando pelas salas mais próximas do seu gabinete. Ele pode alegar então que não sabia de nada, da mesma forma que o seu chefe, o presidente Lula, alegou em inúmeras ocasiões. Fica também outra dúvida no ar: os principais colaboradores do primeiro governo Lula - José Dirceu, Antonio Palocci e Gushiken - dançaram, enquanto Lula passou incólume a todos os escândalos. Será que está ocorrendo uma nova versão do filme e Renan e Sarney perderão força junto ao governo?

Enquanto tudo isso ocorre, a oposição está acanhada. Quando se fala em escândalo envolvendo empreiteira, nenhum partido pode levantar o dedo e dizer que não tem pecado. Em segundo lugar, tem muita gente com medo do ventilador. Ele pode espalhar sujeira para todo lado.